Na obra Cristianismo e religiões não cristãs de Karl Rahner defende a tese que afirma que “todo homem é alcançado pela graça de Deus, e, por isso todo homem é um cristão anônimo obrigado, porém a se tornar cristão explícito”. Acrescenta ainda que a Igreja não deve “ser considerada a comunidade exclusiva daqueles que têm o direito à salvação, e sim a vanguarda, socialmente relevante, a explicação em termos históricos e sociais daquilo que o cristão espera ser realidade escondida também fora da visibilidade da Igreja”.
A chegada nova mentalidade a partir do Concílio Ecumênico Vaticano II abriu novos horizontes em consonância com os sinais dos tempos. A célebre Declaração do Vaticano II, Nostra Aetate, (1965) tece sua abordagem acerca das relações da Igreja Católica com as religiões não-cristãs. Vale lembrar que este evento marcou uma virada extraordinária na direção do permanente diálogo e da colaboração entre religiões e igrejas de diferentes crenças. Diz o texto da mesma declaração: “ela [a Igreja] exorta seus filhos a que, com prudência e caridade, por meio do diálogo e da colaboração com os seguidores das outras religiões, sempre dando testemunho de fé e vida cristã, reconheçam, conservem e façam progredir os valores espirituais, morais e socioculturais que neles se encontram”. (NA 2).
Essa orientação do Concílio Ecumênico Vaticano II gera alguns desdobramentos relevantes: além de propiciar o surgimento, principalmente nos últimos anos, de um acirrado diálogo entre a teologia cristã e as teologias das religiões, gerou um dos debates mais notáveis da reflexão teológica do mundo contemporâneo. Aponta para um território positivo nas mais variadas faces da vida humana, pois acentua um clima de tolerância diante da diversidade, de qualquer gênero que seja, e o respeito à liberdade de opção religiosa, têm levado as religiões a mutuamente se aceitarem, ou melhor, se reconhecerem e, sobretudo, dialogarem entre si.
Na perspectiva do “existencial sobrenatural” rahneriana, o ser humano é, na sua essência, aberto a uma possível Revelação de Deus. O ser humano é, a um só tempo, doador e dom, fundamento da acolhida desse dom. Daí que o ser humano se torna, portanto, evento da própria comunicação de Deus. Entendendo que isso não vale só para quem é batizado ou justificado, mas para todos os seres humanos. Rahner conclui que não é possível demarcar uma linha divisória no ser humano para definir o que ele tem de natural e o que ele tem de sobrenatural.