Autores
Embora o livro de provérbios comece com um título que atribui os provérbios a Salomão, capítulos posteriores deixam claro que ele não foi o único autor da obra. Em provérbios 22.17 refere-se aos “ditados dos sábios”, em 24.23 menciona ainda “outros ditados dos sábios”.
A introdução referente ao capítulo 22 versículos do 17 ao 21, é mais um sinal de que essas seções provêm de um círculo de sábios , e não do próprio Rei Salomão. O capítulo de número 30 é atribuído a Agur, filho de Jaque, e no capítulo 31 versículos 01 ao 19, ao Rei Lemuel, nenhum dos dois, porém, sendo mencionado em outro lugar.
A maior parte do livro, está estritamente vinculada ao Rei Salomão. Os títulos de 10.1 e de 25,1 voltam a incluir seu nome, embora 25.1 declare que esses provérbios foram compilados pelos os homens de Ezequias. Isso mostra que um grupo de sábios ou de escribas compilou esses provérbios, acrescentado os capítulos de 25 a 29 às compilações anteriores.
A capacidade que o Rei Salomão tinha de produzir provérbios é ressaltada em primeiro livro de Reis capítulo 04 versículo 32, em que 3 mil provérbios são atribuídos a ele. Levando também em conta o que se disse sobre a sua sabedoria incomparável (Primeiro Livro de Reis capítulo 04 versículos 29 a0 31) , é bem provável que ele fosse a fonte da maior parte do Livro de Provérbios.
O livro de provérbios contém um prólogo breve no capítulo 01 versículos 01 á 07 e um epílogo mais longo, que pode ter sido acrescentado ao material já existente. É possível que os discursos da ampla seção de abertura (1.8-9 e 18) fossem obra de um compilador ou organizador, mas as semelhanças entre essa seção e outros capítulos como capítulo 6 versículo 01 com 11.15, 17.18; 20.16; 27.13; capítulo 06 versículo 19 com 14.5, 25; 19.5 defende igualmente uma origem salomônica.
O realce dispensado ao “temor do SENHOR” no capítulo 01 versículo 07, em todas as partes do livro serve de elo aos vários segmentos.
Data
Caso se atribua a Salomão um papel de importância no livro, a maior parte de Provérbios remontaria ao século 10 Antes de Cristo, no período do reino unificado de Israel. A paz e a prosperidade que caracterizam o período eram bem adequados ao desenvolvimento da sabedoria reflexiva e para a produção de obras literárias.
Além disso, vários estudiosos já ressaltaram que os 30 ditados dos sábios, em 22.17 – 24.22, têm semelhança com as 30 sessões da Sabedoria de Amenemope, obra sapiencial egípcia mais ou menos da mesma época de Salomão.
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De igual forma, a personificação da sabedoria, tão realçada nos capítulos 1 ao 9, pode ser comparada com a personificação das idéias abstratas nos escritores tanto da Mesopotâmia quanto do Egito no segundo milênio A.C.
A função dos homens de Ezequias em 25.1 revela que sessões importantes de Provérbios foram compiladas e editadas entre 715 e 686 antes de Cristo. Era um período de reforma espiritual encabeçada pelo o rei, que também demonstrava um profundo interesse pelos os escritos de Davi e Asafe (veja em segundo livro de Crônicas 29.30).
Talvez tenha sido também nesse período que os ditados de Agur no capítulo 30 e de Lemuel (31.1-9) e os demais “ditados dos sábios” (22.17 – 24.22, 24.23-34), foram acrescentados aos escritos de Salomão, embora seja possível que a tarefa de compilação só tenha sido concluída após o reino de Ezequias.
A natureza do Livro de Provérbios
A palavra hebraica traduzida por “provérbio” é também traduzida por “zombar” (Isaías 14.4), “oráculo” (Números 23.7,18) e parábola (Ezequiel 17.2) de modo que seu significado é consideravelmente mais amplo do que o que temos nossa língua.
Isso talvez ajude a explicar os discursos mais longos dos capítulos 1 ao 9. Os provérbios são, na maioria, declarações breves e compactas, com verdades a respeito do comportamento humano. Muitas vezes, há alguma repetição de palavras ou de sons que ajuda na memorização. Em 30.33 o mesmo verbo hebraico é traduzido por “bater”, “torcer” e “suscitar”.
Na seção maior do livro (10.1 – 22.16), a maioria dos provérbios se compõe de dois versos, e os dos capítulos 10 ao 15 quase sempre uma contraposição. As vezes, o escritor simplesmente faz uma observação geral, como “O suborno é um recurso fascinante para aquele que o oferece” (17.8, 14.20), mas em geral avalia a conduta: “mas quem repudia o suborno viverá” (15.27).
Muitos provérbios, na realidade, referem-se às consequências de determinada ação ou características da personalidade: “O filho sábio da alegria ao pai” (10.1). Com os provérbios foram escritos principalmente para instrução, muitas vezes são redigidos na forma de mandamentos: “Não ame o sono, ou acabará ficando pobre” (20.13). Mesmo quando não se usa o imperativo, fica bem clara a ação desejada (14.5).
Uma característica dos provérbios é o emprego da linguagem figurada: “Como água fresca para a garganta sedenta é a boa notícia que chega de uma terra distante”(25.25). Num único capítulo, 25 há 11 versículos que começam com “Assim como” ou “como”.
Esses similes tornam os provérbios mais vividos e poderosos. Às vezes, o simile é usado de modo jocoso ou irônico: “como anel de ouro em focinho de porco, assim é a mulher bonita, mas indiscreta” (11.22, 26.9), ou “Como a porta gira em suas dobradiças, assim preguiçoso se revira em sua cama”(26.14).
O emprego das metáforas é igualmente eficaz: “O ensino dos sábios é a fonte de vida” (13.14) é “O falar amável é árvore de vida”(15.4) De acordo com 16.24, “As palavras agradáveis são como um favo de mel”. A figura do semear e ceifar é usada de modo tanto positivo quanto negativo (11.18, 22.8).
Vários provérbios, buscando desenvolver um conjunto de valores, empregam comparações diretas: “Melhor é o pobre íntegro em sua conduta do que o rico perverso em seus caminhos” (28.6). O padrão “melhor[…] do que” pode também ser visto em 15.16-17, em 16.19,32 e em 17.1,12; uma forma modificada ocorre em 22.1.
Outro padrão que se acha no livro é o provérbio numérico, como é chamado. Esse tipo de dito, empregado pela primeira vez em 6.16, normalmente traz a cifra “três” no primeiro verso e “quatro” no segundo. (30.15, 18, 21, 29).
A repetição de provérbios inteiros (capítulos 6.10-11 com 24.33-34; 14.12 com 16.25; 20.16 com 27.13) ou de partes de provérbios pode servir a um fim poético. Uma pequena variação permite que o escritor (ou escritores) empregue a mesma figura de linguagem para ressaltar uma lição correlatada (como em 17.3; 27.21) ou substitua uma palavra para alcançar maior clareza ou conferir um realce diferente. (19.1; 28.6). Em 26.4-5 o mesmo verso é repetido de modo aparentemente contraditório, mas o propósito ai e ensinar duas lições diferentes.
As vezes, Provérbios é muito direto e prático, essa é a natureza dos escritores sapienciais, que procuram aplicar a verdade e desviar os pescadores do mau caminho.
Propósito e ensino do Livro de Provérbios
Em conformidade com o prólogo, Provérbios foi escrito para “dar prudência aos inexperientes e conhecimento e bom senso aos jovens” (1.4), e para aumentar o conhecimento dos sabios (1.5).
A repetição frequente de “meu filho” (1.8,10; 2.1;3 3.1;4.1; 5.1) ressalta a instrução dos jovens, que devem ser guiados a uma vida feliz e próspera. Adquirir sabedoria e evitar as armadilhas da insensatez conduzirá à saúde e o sucesso.
Embora provérbios seja um livro prático, que lida com a arte de viver, assenta a sabedoria solidamente sobre o “temor do SENHOR” (1.7). Em todas as parte do livro, a reverência para com Deus é apresentada como o caminho da vida e de segurança (3.5; 9.10; 22.4).
As pessoas devem confiar no SENHOR (3.5)e não em si mesmas (28.26) As referências à “àrvore da vida” (3.18; 11.30; 13.12) relembram a jubilante bem-aventurança do jardim do Éden e declaram, de modo figurado, que quem descobrir a sabedoria será grandemente abençoado.
Nos capítulos de 1 ao 9, o escritor contrapõem o caminho da sabedoria e da violência (1.11-18) e da imoralidade (2.16-18). A adúltera, com suas palavras sedutoras, procuram atrair um jovem à casa dela e, em última análise, à morte. A imoralidade sexual é, portanto, exemplo e símbolo da antítese da sabedoria.
Ao mesmo tempo, Provérbios a esposa implicante e briguenta com seus modos insuportáveis (19.13; 21.9,19). O lar deve ser um lugar cheio de amor, não de dissensão (15.17; 17.1).
Os homens briguentos e irascíveis também são condenados (14.29 26.21), e a intriga é considerada causa de grandes pertubações (11.13; 18.8; 26.22). Se alguém conseguir controlar a língua, sensato é (10.19; 17.27).
Ao mesmo tempo, a língua deve ser usada para instruir os próprios filhos (1.8; 22.6; 31.26) sendo a disciplina indispensável para o bem-estar deles (13.24).
Provérbios incentiva fortemente a diligência e o trabalho esforçado (10.4; 31.17 ao 19), exibindo o preguiçoso como objeto de desprezo público (6.6). O filho “que dorme durante a ceifa é o filho da vergonha” (10.5), e os que amam o sono certamente ficaram pobres (20.13).
Geralmente, a riqueza está associada à retidão (3.16) e a pobreza, à iniquidade (22.16), mas alguns versículos vinculam a riquezas aos perversos (15.16; 28.6). A honestidade e a justiça são elogiadas repetidas vezes, e o rei deve defender os direitos dos pobres e necessitados (31.5). Os que tratam os os pobres como bondade serão ricamente abençoados (14.21), mas há várias advertências contra ser fiador do próximo (6.1).
Os soberbos e arrogantes serão destruídos serão destruídos com certeza (11.2; 16.18), especialmente o zombador que age “com extremo orgulho” (21.24 2 1.22). Os bêbados são retratados como o epítome do insensato (20.1), e seus ais e tristezas são apresentados de forma muito realista em 23.29-35.
Embora provérbios seja mais prático que o teológico, a obra de Deus como Criador é ressaltada de modo especial. O papel da sabedoria na criação é o assunto de 8.22-31, em que a sabedoria, como atributo de Deus, é personificada. Duas vezes, Deus é chamado Criador do pobres (14.31; 17.5). Além disso, dirige os passos do homem (16.9; 20.24), e seus olhos observam todas as ações deste (5.21; 15.3). Deus é soberano sobre os reis da terra (21.1), e toda a história desenrola-se debaixo de seu controle. (16.4,33).
Estrutura literária do Livro de Provérbios
Os títulos das seções, no texto da NVI, dividem o livro em unidades bem-definidas. Um breve prólogo (que declara o propósito e o tema 1.1-7) dá inicio ao livro, e um epílogo mais longo (identificável pelo o conteúdo e pela forma alfabética, 31 10 ao 31) encerra-o.
Os nove primeiros capítulos contêm uma série de discursos que contrapõem o caminho e os benefícios da sabedoria ao caminho do tolo. Executando-se seções em que se manifesta a sabedoria personificada (1.20 8.1,22; 9.1), cada discurso começa com “meu filho” ou “meus filhos”.
Essas unidades são semelhantes ao discurso de Jó e de Eclesiastes também em forma poética. Características preponderante nos discursos introdutórios de Provérbios e a personificação, tanto da sabedoria quanto da insensatez (como se fossem mulheres), cada uma das quais (com os apelos e as advertências da senhora Sabedoria – a “mulher sábia” – e as seduções da senhora Insensatez – “a mulher imoral”) procura persuadir os jovens “inexperientes” a seguir os seus caminhos.
Esses discursos são organizados de modo notável. O corpo principal dos discursos, que começa (1.8 ao 33) e termina nos (capítulos 8 e 9) com apelos e convites diretos, consiste em duas seções bem equilibradas entre si, sendo a primeira dedicada à recomendação da sabedoria (capítulos 2 ao 4) e a segunda, a advertência contra a insensatez (capítulos 5 ao 7).
Nesses discursos, o jovem é retratado como quem está sendo seduzido à insensatez por homens que procuram obter vantagens neste mundo explorando o próximo (1.10 ao 19) e por mulheres que buscam por prazeres sexuais fora dos laços do matrimônio (capítulo 5, 6. 20 ao 25 e 7).
Nas estruturas sociais da época, essas eram as duas grandes tentações para o jovem. A tentação para o adultério, em especial, consta aqui como ilustração e símbolo do apelo da senhora Insensatez. A coletânea principal dos provérbios de Salomão, de 10.1 a 22.16, consiste em parelhas isoladas de versos, muitas das quais expressam contraposição.
À primeira vista, não parece haver nenhuma organização claramente perceptível do material, embora as vezes dois ou três provérbios juntos tratarem do mesmo assunto. Por exemplo 11.24,25 trata da generosidade 16 12 ao 15 menciona um rei e 19.4, 6,7 fala a respeito da amizade.
No entanto, há cada vez mais evidencias que a disposição literária das unidades maiores foi intencional. É necessário um estudo maior dessa possibilidade. A segunda coletânea de Salomão (capítulos 25 ao 29) dá continuidade ao modelo dos versículos com dois versos, mas também há exemplos de provérbios com três versos (25.13; 27.10,22) ou quatro (25.4, 5, 21, 22 e 26. 18 e 19).
Os cinco últimos versículos do capítulo 27 versículos 23 ao 27, apresentam um breve discurso sobre os benefícios de criar rebanhos e manadas. Nos “trinta ditados” dos sábios (22.17 ao 24.22) e nos “outros ditados” de 24.23 ao 34 predominam as unidades compostas de dois ou três versículos, com uma espécie de retorno ao estilo dos capítulos de 1 a 9. Essas seções funcionam como apêndice de 10.1 ao 22 e 22.16 e contêm alguns provérbios semelhantes (24.6 com 11.14; 24.16 com 11.5).
Há vínculos ainda mais fortes com os capítulos de 1 a 9 (capítulo 23.27 com 2.16, 24.33,34 com 6.10, 11). Os dois últimos capítulos servem de apêndice dos capítulos de 25 a 29. Nas palavras de Agur predomina o provérbio numérico (30.15,18,21,24 e 29) e elas apresentam um estreito paralelo com Salmos 18.30 em 30.5.
Depois dos nove versículos atribuídos a Lemuel (31. 1 ao 9), Provérbios termina com um epílogo, um acróstico impressionante em homenagem à esposa de caráter nobre. Ela demonstra, e assim sintetiza, muitas das qualidades e dos valores identificados no livro inteiro com a sabedoria.
Tendo em vista que Provérbios é dirigido, em primeiro lugar, aos jovens no limiar da maturidade, esse realce sobre a esposa exemplar parece surpreendente. Pode ter, porém dois objetivos:
- Oferecer conselhos sobre o tipo de esposa que o jovem deve procurar;
- De modo sutil, aconselhar o jovem (de novo) a casar-se com a senhora sabedoria,
De modo que volta ao tema dos capítulos 1 ao 9 (que chega ao auge no capítulo 9, a descrição da senhora Sabedoria 9. 1 e 2 com as virtudes da esposa exemplar). Seja como for, a última epitomização da sabedoria na esposa exemplar forma uma moldura literária com os discurso iniciais, em que a sabedoria é personificada como mulher.
Esboço
- Prólogo: propósito e tema (1.1 ao 7)
- A Superioridade do caminho da Sabedoria (1.8 -ao 9.18)
- Apelos e advertências diante da juventude (1.8 ao 33)
- Tentações de obter a felicidade mediante a violência (1.8 ao 19)
- Advertências contra a rejeição da sabedoria (1.20 ao 33)
- Elogio à sabedoria (capítulos 2 ao 4)
- Benefícios de aceitar a instrução da sabedoria (capítulo 2)
- As instruções e benefícios da sabedoria (3.1 ao 35)
- Desafios para agarra-se à sabedoria (capítulo 4)
- Advertências contra a insensatez (capítulos 5 ao 7)
- Advertências contra o adultério (capítulo 5)
- Advertência contra os caminhos perversos (6.1 ao 19)
- O preço do Adultério (6.20 ao 35)
- Advertências contra as tentações da adúltera (capítulo 7)
- Apelos dirigidos a juventude (capítulos 8 e 9)
- Apelo da sabedoria (capítulo 8)
- Convites da sabedoria e da insensatez (capítulo 9)
- Apelos e advertências diante da juventude (1.8 ao 33)
- A coletânea principal dos provérbios de Salomão (10,1 – 22.16)
- Os trinta ditados dos sábios (22.17 ao 24.22)
- Coletânea dos provérbios de Salomão, feita por Ezequias (capítulos 25 ao 29)
- Palavras de Agur (capítulo 30)
- Palavra do rei Lemuel (capítulo 31 1 ao 9)
- Epílogo: a esposa exemplar (31.10 ao 31).
Fonte: Bíblia de Estudo NVI (Nova Versão Internacional) – Editora Vida
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