Autor da Segunda Carta de Pedro
O autor da segunda carta de Pedro apresenta-se como Simão Pedro (1.1). Emprega o pronome na primeira pessoa do singular num trecho altamente pessoal (1.12-15) e declara ser testemunha ocular da transfiguração (1.16-18; cf. Mt 17.1-5). Assevera que essa é sua segunda carta aos leitores (3.1), referindo-se a Paulo como “nosso amado irmão” (3.15; v. nota). Em suma: a carta é declaradamente de Pedro, e sua natureza é compatível com essa declaração.
Embora segunda carta de Pedro não fosse tão amplamente conhecida e reconhecida na igreja primitiva quanto 1Pedro, alguns a podem ter usado e aceito como autorizada já no séc. II, e talvez até mesmo na última parte do século I (1Clemente [95 d.C.] talvez faça referência a ela).
Não era atribuída a Pedro antes dos tempos de Orígenes (185-253), e este parece refletir alguma dúvida a respeito. Eusébio (265-340) situou-a entre os livros questionados, embora reconhecesse que a maioria aceitava ser oriunda de Pedro. Depois dos tempos de Eusébio, parece ter sido bem aceita em geral como canônica.
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Em séculos mais recentes, porém, sua autenticidade tem sido posta em dúvida por um número considerável de estudiosos. Uma das objeções levantadas tem sido a diferença de estilo entre 1Pedro e 2Pedro. Mas a diferença não é tão grande assim; há semelhanças notáveis no vocabulário e em outros aspectos. Na realidade, nenhuma outra obra escrita é tão semelhante a 1Pedro quanto 2Pedro.
As diferenças que existem podem ser explicadas por diferenças nos assuntos tratados, na forma e no propósito das cartas, na ocasião e nas circunstâncias de redação, nas origens documentárias ou nos modelos e nos escribas que porventura tenham sido empregados. Talvez seja mais significativa a declaração de 1Pedro 5.12 de que Silvano ajudou na redação de 1Pedro.
Nenhuma declaração semelhante é feita a respeito de 2Pedro, e talvez isso explique a diferença de estilo que se tem observado (v. “Introdução, 1Pedro: Autor e data”). Outras objeções surgem de uma reconstrução naturalista da história da igreja primitiva, ou de modos errôneos de entender ou interpretar os dados disponíveis.
Por exemplo: alguns sustentam que a referência às cartas de Paulo em 3.15,16 revela uma data avançada para esse livro — depois dos dias de Pedro. Mas é bem possível que as cartas de Paulo tenham sido compiladas em data bem recuada, já que algumas delas tinham existido e talvez já circulado mais de dez anos antes de morte de Pedro (no caso de Tessalonicenses, talvez até 15 anos antes).
Além disso, o que Pedro diz talvez mostre apenas que conhecia algumas das cartas de Paulo (as comunicações eram boas no mundo romano e na igreja primitiva), e não que existisse uma coletânea formal e eclesiástica delas.
Data
Segunda Carta de Pedro foi escrita perto do fim da vida de Pedro (cf. 1.12-15), depois de ter escrito uma carta anterior (3.1) aos mesmos leitores (provavelmente 1Pedro). Como Pedro foi martirizado durante o reinado de Nero, sua morte deve ter ocorrido antes de 68 d.C., de modo que é muito provável que tenha escrito 2Pedro entre 65 e 68. Alguns sustentam que essa data é recuada demais para a escrita de 2Pedro, mas nada no livro exige data posterior.
A heresia combatida é semelhante ao tipo presente no séc. I d.C (proto-gnosticismo). Insistir em que o segundo capítulo era dirigido contra o gnosticismo do séc. II é pressupor algo além do conteúdo do capítulo. Embora os hereges mencionados em 2Pedro bem pudessem estar entre os precursores dos Prof. Luiz Felipe Xavier – Notas de Aulas gnósticos do séc. II, nada se diz a respeito deles que não se encaixasse nos anos finais da vida de Pedro.
Alguns defendem uma data posterior porque interpretam a referência aos antepassados em 3.4 como alusão a uma geração cristã anterior. No entanto, a palavra seria interpretada mais naturalmente como referência aos patriarcas do AT (cf. Jo 6.31; At 3.13; Hb 1.1). De igual forma, a referência a Paulo e a suas cartas (3.15,16; v. Autor) não requer data posterior aos tempos em que Pedro viveu.
Segunda Carta de Pedro e Carta de Judas
Há semelhanças notáveis entre Segunda Carta de Pedro e Carta de Judas (cp. 2Pe 2 e Jd 4-18), mas também há diferenças consideráveis. Já se sustentou que um dos trechos é empréstimo do outro, ou que os dois se derivam de uma mesma fonte documentária.
Se houve empréstimo, não foi cópia literal, mas adaptação para os propósitos do escritor. Embora muitos tenham insistido em que Judas fez uso da matéria de Pedro, é mais razoável tomar por certo que a carta mais longa (Pedro) tenha incorporado boa parte da mais curta (Judas). Esse tipo de aproveitamento de texto é bastante comum nos escritos antigos.
Por exemplo, muitos acreditam que Paulo fez uso de partes de hinos mais antigos em Fp 2.6-11 e em 1Tm 3.16.
Propósito
Na primeira carta, Pedro alimenta as ovelhas de Cristo ensinando-lhes como lidar com a perseguição proveniente de fora da igreja (v., e.g., 1Pe 4.12); nessa segunda carta ensina-lhes como lidar com falsos mestres e malfeitores que entraram na igreja (v. 2.1; 3.3,4).
Embora as situações específicas naturalmente exijam variações no conteúdo e na tônica, nas duas cartas, Pedro, como pastor das ovelhas de Cristo (Jo 21.15-17), procura recomendar aos seus leitores uma combinação sadia de fé e prática cristãs. Mais especificamente, seu propósito é tríplice: 1) estimular o crescimento cristão (cap. 1), 2) combater falsos ensinos (cap. 2) e 3) encorajar a vigilância, tendo em vista a segunda vinda inequívoca do Senhor (cap. 3).
Esboço
- Introdução (1.1,2)
- Exortação ao crescimento nas virtudes cristãs (1.3-11)
- A capacitação divina (1.3,4)
- Convite ao crescimento (1.5-7)
- O valor desse crescimento (1.8-11)
- O propósito e a legitimação da mensagem de Pedro (1.12-21)
- Seu alvo ao escrever (1.12-15)
- A base da sua autoridade (1.16-21)
- Advertência contra falsos mestres (cap. 2)
- Predita a vinda deles (2.1-3a)
- É inevitável a condenação deles (2.3b-9)
- Delineadas as suas características (2.10-22)
- O fato da segunda vinda de Cristo (3.1-16)
- Reafirmado o propósito de Pedro ao escrever (3.1,2)
- A chegada dos zombadores (3.3-7)
- A certeza da segunda vinda de Cristo (3.8-10)
- Exortações baseadas no fato da segunda vinda de Cristo (3.11-16)
- Observações finais (3.17,18)
Fonte: Bíblia de Estudo NVI (Nova Versão Internacional) – Editora Vida
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