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Introdução da Primeira Carta de Pedro

Autor da Primeira Carta de Pedro

O autor da primeira carta de Pedro se apresenta-se como o apóstolo Pedro (1.1), e o conteúdo e o caráter da carta apóiam sua autoria veja At 2.33, em presença de Pedro; 4.13 – Numa ocasião passada, Pedro rebelara-se contra a idéia de que Cristo sofreria (veja Mt 16.21-23); 5.1 – Pedro, que se identifica como apóstolo no início da carta (1.1), opta agora por identificar-se com os presbíteros das igrejas (cf. 2Jo 1; 3Jo 1).

Assim, ficariam animados, tendo em vista suas grandes responsabilidades e a situação difícil em que as igrejas se achavam. Essas igrejas, pelas quais esses presbíteros tinham responsabilidade, estavam espalhadas por boa parte da Ásia Menor (veja. 1.1), de modo que, se Pedro fosse líder de uma igreja local, deveria ter relacionamento formal com uma delas.

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Pedro tinha estado com Jesus desde os primeiros dias do seu ministério, sendo testemunha de todas as fases e aspectos da obra de Jesus, incluindo-se seus sofrimentos cruciais (cf. Mt 26.58; Mc 14.54; Lc 22.60-62; Jo 18.10,11,15,16). Nessa carta, dá testemunho notável dos sofrimentos de Cristo (veja. 2.21-24) e obedece ao mandamento registrado em At 1.8.

Pedro foi testemunha da glória de Cristo no seu ministério, de modo geral (veja. Jo 1.14; 2.11), e, como pessoa presente na transfiguração (veja. Mt 16.27; 17.8), já tinha visto a glória do reino vindouro de Cristo. No tempo determinado por Deus, assim como Cristo sofreu e entrou na sua glória, assim também todos os seus, depois de sofrerem, participarão da sua glória futura. Metáfora que o próprio Senhor empregara (Jo 10.1-18; Lc 15.3-7), a qual deve ter ficado gravada na mente de Pedro (veja. Jo 21.15-17; cf. 1Pe 2.25). Pedro, ao escrever a carta, está cumprindo a ordem de Jesus:

“Pastoreie as minhas ovelhas”. O termo“pastor” é também uma metáfora do at (veja. Ez 34.1-10, em que o Senhor cobra dos líderes de Israel a responsabilidade por terem deixado de cuidar do rebanho). Ou “supervisionando” — conceito de supervisores ou bispos, que também aparece em At 20.28; Fp 1.1; 1Tm 3.2; Tt 1.7. Fica claro no presente texto, bem como em Atos 20.17,28, que os três termos —“presbítero”, “supervisor” (ou bispo) e “pastor”— aplicam-se igualmente a um só cargo 5,13 – Pedro considera Marcos com tanto carinho e afeto, que o chama filho. É possível que Pedro tenha levado Marcos a Cristo (veja. 1Tm 1.2).

Além disso, a carta reflete a história e a terminologia dos evangelhos e de Atos (notavelmente os discursos de Pedro); seus temas e conceitos refletem as experiências e as associações de Pedro no período do ministério terrestre de nosso Senhor e na era apostólica. Que tinha conhecimento, e.g., de Paulo e das cartas dele fica claro em 2Pe 3.15,16, em Gl 1.18; 2.1-21 e em outros lugares; não é de surpreender, portanto, que haja coincidências com pensamentos e expressões dos escritos de Paulo.

Desde o início, primeira carta de Pedro era reconhecida como autorizada, sendo obra do apóstolo Pedro. A referência mais antiga a ela talvez seja 2Pe 3.1, em que o próprio Pedro se refere a uma carta anterior que escrevera. 1Clemente (95 d.C.) parece indicar familiaridade com primeira carta de Pedro. Policarpo, discípulo do apóstolo João, faz uso de primeira carta de Pedro na sua carta aos filipenses.

O autor do Evangelho da verdade (140-150) conhecia primeira carta de Pedro. Eusébio (séc. IV d.C.) mostra que era universalmente acolhida. A carta foi explicitamente atribuída a Pedro por aquele grupo de pais da igreja cujos testemunhos aparecem na confirmação de muitos dos escritos genuínos do NT , a saber: Ireneu (140-203 d.C.), Tertuliano (150-222), Clemente de Alexandria (155-215) e Orígenes (185-253). Fica, portanto, claro que a autoria do livro por Pedro tinha forte apoio desde o princípio.

Apesar disso, alguns alegam que o grego idiomático da carta extrapola a competência de Pedro. Em seus dias, porém, o aramaico, o hebraico e o grego eram usados na Palestina, e é bem possível que tivesse conhecimento de mais de um
idioma.

O fato de não ser escriba de formação (At 4.13) não significa que não tinha conhecimento do grego; na realidade, como pescador na Galiléia, é bem provável que usasse o idioma. Mesmo que não o conhecesse nos primeiros dias da igreja, pode tê-lo aprendido como auxílio importante ao ministério apostólico desde seus dias de
pescador até a data da redação de primeira carta de Pedro.

É verdade, no entanto, que primeira carta de Pedro foi escrita em um grego bom e literário, e, embora Pedro soubesse sem dúvida falar o grego — como tantos no mundo mediterrâneo —, é improvável que conseguisse escrevê-lo em estilo tão esmerado.

Mas é nesse momento que talvez a observação de Pedro em 5.12 a respeito de Silvano (Silas) tenha relevância especial. Aqui, o apóstolo declara que escreveu “com a ajuda de” (mais literalmente, “por meio de”) Silas.

A expressão não pode referir-se a Silvano meramente como portador da carta. Silvano era, portanto, o agente imediato da redação. Alguns acreditam que as qualificações de Silvano para registrar a carta de Pedro em grego literário acham-se em At 15.22-29. Sabe-se que um secretário naqueles dias muitas vezes compunha documentos em grego excelente para os que não tinham a facilidade lingüística de fazê-lo. Assim, o grego de Silvano pode ser visto
em primeiro carta de Pedro, ao passo que em segunda carta de Pedro talvez apareça o grego mais tosco de Pedro.

Alguns também sustentam que o livro reflete uma situação não existente senão depois da morte de Pedro, pois entendem que a perseguição mencionada em 4.14-16 e em 5.8,9 refere-se ao reinado do Domiciano (81-96 d.C.). No entanto, a situação que se desenvolvia nos tempos de Nero (54—68) é satisfatoriamente aludida por aqueles versículos. O livro bem pode ser datado no começo da década de 60 d.C.

Não  pode ser situado antes de 60 d.C., porque revela familiaridade com as cartas da prisão de Paulo (e.g., Colossenses e Efésios, que não podem ser datadas antes de 60 d.C.): cp. 1.1-3 com Ef 1.1-3; 2.18 com Cl 3.22; 3.1-6 com Ef 5.22-24. Além disso, não pode ser datado depois de 67/68, visto que Pedro foi martirizado durante o reinado de Nero.

Lugar de composição

Em 5.13, Pedro mostra que estava na Babilônia quando escreveu primeira carta de Pedro. Entre as interpretações apresentadas, ele teria escrito: 1) na Babilônia egípcia, posto militar, 2) na Babilônia da Mesopotâmia, 3) em Jerusalém e 4) em Roma. É bem provável que Pedro esteja empregando o nome “Babilônia” simbolicamente, como no livro de Apocalipse.

O fato de sete cabeças simbolizarem tanto sete colinas quanto sete reis ilustra a fluidez do simbolismo apocalíptico, a não ser que as sete colinas sejam figuras do poder régio (ou político). Cinco […] um […] o outro. Entendidos 1) como sete imperadores romanos que realmente existiram, 2) como sete impérios seculares ou 3) simbolicamente como o
poder do Império Romano em seu sentido global.).

A tradição vincula Pedro, na parte final de sua vida, a Roma, e certamente para alguns escritores antigos a redação da carta se deu ali. Entretanto, sabe-se que a Babilônia existia no séc. I d.C. como cidade pequena à beira do Eufrates. Além disso, vemos que 1) não há provas de o termo “Babilônia” ser usado como figura de Roma antes da redação de Apocalipse (c. 95 d.C.) e 2) o contexto de 5.13 não é de modo algum figurado nem enigmático.

Destinatários

Cristãos judeus e gentílicos espalhados por boa parte da Ásia Menor. Pessoas dessa área estavam em Jerusalém no Dia de Pentecostes (veja. At 2.9-11). Paulo pregara e ensinara em algumas dessas províncias (veja., e.g., At 16.6; 18.23; 19.10,26).

Temas

Embora primeira carta de Pedro seja uma carta breve, pincela várias doutrinas e tem muita coisa para dizer a respeito da vida cristã e dos seus deveres. Não é de estranhar que diferentes leitores tenham identificado na carta diferentes temas principais.

Por exemplo: já foi caracterizada como carta de separação, sofrimento e perseguição, de sofrimento e glória, de esperança, de peregrinação, de coragem e como carta que trata da verdadeira graça de Deus.

Pedro diz que tem escrito “encorajando-os e testemunhando que esta é a verdadeira graça de Deus” (5.12). Essa é uma classificação geral e definitiva da carta, mas não exclui a identificação de inúmeros temas subordinados e coadjuvantes. A carta também é composta de uma série de exortações (imperativos) que vão de 1.13 a 5.11.

Esboço

  1. Saudação (1.1,2)
  2. Louvor a Deus por sua graça e salvação (1.3-12)
  3. Exortações à santidade de vida (1.13—5.11)
    • A exigência de santidade (1.13—2.3)
    • A posição dos crentes (2.4-12)
      • Uma casa espiritual (2.4-8)
      • Um povo escolhido (2.9,10)
      • Forasteiros e estrangeiros (2.11,12)
    • Submissão à autoridade (2.13—3.7)
      • Submissão aos governantes (2.13-17)
      • Submissão aos senhores (2.18-20)
      • O exemplo de Cristo na submissão (2.21-25)
      • Submissão das esposas aos maridos (3.1-6)
      • O dever correspondente dos maridos (3.7)
    • Deveres de todos (3.8-17)
    • O exemplo de Cristo (3.18—4.6)
    • Conduta diante do fim de todas as coisas (4.7-11)
    • Conduta dos que sofrem por Cristo (4.12-19)
    • Conduta dos presbíteros (5.1-4)
    • Conduta dos jovens (5.5-11)
    • O propósito da carta (5.12)
    • Saudações finais (5.13,14)

Fonte: Bíblia de Estudo NVI (Nova Versão Internacional) – Editora Vida

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